É assim que essa turma trata a diversidade...
Mesmo após o festival das barbaridades que
a cada dia são descobertas acerca das suas posições preconceituosas contra
negros, homossexuais e mulheres, além da condição de réu perante o Supremo
Tribunal Federal (STF) por crime de estelionato por enganar pessoas que
compraram ingresso para um show seu, o pastor da Assembléia de Deus, cantor
gospel e deputado Marco Feliciano (PSC), Presidente (ainda) da Comissão de
Direitos Humanos da Câmara dos Deputados consegue apoios, como ocorreu na
quarta-feira (20/03), na Câmara Municipal de Porto Alegre, durante a votação de
uma moção de repúdio contra ele proposta pelos vereadores Pedro Ruas e Fernanda
Melchionna (ambos do PSOL).
Durante o debate sobre a moção, que
recebeu apoio até de parlamentares conservadores, os Vereadores Waldir Canal
(PRB) e Luiza Neves (PDT) votaram contrariamente à moção. Explica-se: Waldir
Canal é representante da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), e Luiza Neves
pertence à Assembléia de Deus e é casada com um pastor desta igreja.
Enquanto a vereadora Luiza Neves preferiu
dar seu voto contrário à moção em constrangido (mas deliberado) silêncio,
Waldir Canal fez mais: foi à tribuna justificar o voto, fazendo um tartamudeado
raciocínio: “Não vou votar com [sic] esta Moção de Repúdio porque acaba
suscitando o extremismo, uma guerra que não vai levar a lugar nenhum. Quem quer
respeito, tem que respeitar. Se por um lado há extremismo na fala do Deputado,
que também já reconheceu, já deu suas explicações... Ao que me consta ele se
explicou. Ao que me consta também existe extremismo por parte dessas próprias
minorias em alguns momentos. Então, venho aqui, com a maior tranqüilidade,
encaminhar contrariamente com fundamento nessa posição: sou contrário aos
extremismos. Acho que as minorias não podem brigar entre si; as minorias têm de
respeitar a luta de cada um, porque as minorias têm sido sufocadas durante
séculos. Agora, se agirmos dessa maneira, estaremos reconhecendo uma minoria e
desconhecendo uma outra. Então, o meu encaminhamento, o meu voto é
contrário a essa posição extremista que pode levar a um acirramento, o que já
tem acontecido."
O discurso do representante da IURD no
parlamento da Capital gaúcha, além de rocambolesco foi patético, pois afinal,
quem acirrou os ânimos afirmando que “africanos
descendem de ancestral amaldiçoado por Noé” (twitter, 31.03.11), que “a prodridão dos sentimentos dos
homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição” (twitter, 31.03.11), que “Quando você estimula uma mulher a ter os
mesmos direitos do homem, ela querendo trabalhar, a sua parcela como mãe começa
a ficar anulada, e, para que ela não seja mãe, só há uma maneira que se
conhece: ou ela não se casa, ou mantém um casamento, um relacionamento com uma
pessoa do mesmo sexo, e que vão gozar dos prazeres de uma união e não vão ter
filhos” e, por
fim, apresentar um projeto de lei sustando o reconhecimento, pelo STF da união
entre pessoas do mesmo sexo, foi o pastor-cantor-deputado Marco Feliciano, e
não as milhares de pessoas que são discriminadas, espancadas e assassinadas diariamente
no Brasil em razão das suas escolhas pessoais.
O deputado Marco Feliciano tem o direito
de pensar como quiser, desde que disto não decorra a prática ou o incitamento à
prática de crime. Mas este não ponto. O que é deplorável, isto sim, é que se
trata de alguém que foi colocado nada menos do que na condição de presidente da
comissão da Câmara Federal cuja função é exatamente combater o preconceito e
todas as formas de discriminação à pessoa humana. E a responsabilidade da
escolha é do seu partido político, o Partido Social Cristão (PSC), ao indicar o
pastor homofóbico para a função, bem como dos membros da Comissão de Direitos Humanos
que o elegeram, demonstrando absoluto desrespeito com a ética que deve presidir
a indicação para um cargo de tal natureza.
É por demais sabido que as seitas
evangélicas neopentecostais disseminam preconceitos contra
homossexuais, religiões de matriz africana, espíritas e outras formas de pensamento e comportamento que as primeiras identificam como “inimigas dos valores
cristãos” – na verdade na contramão do espírito de tolerância pregado por quem
dizem serem porta-vozes na Terra – daí a justificada indignação que cresce a cada dia para com
a designação do referido parlamentar para a presidência da comissão, um espaço
nobre cuja única função é defender os seres humanos de toda e qualquer forma de
discriminação.
Mas o
mais lamentável é que vozes se levantem, no Parlamento da Capital dos Gaúchos,
a quem a liberdade sempre foi tão cara, para defender posturas favoráveis ao
preconceito, cujos produtos são o ódio e a prática de crimes contra os seres humanos.
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