sábado, 9 de outubro de 2010

QUEM SÃO OS ELEITORES DE MARINA?

Ao contrário do que sempre desejam os perdedores, o segundo turno não é um novo pleito, do ponto de vista do "zeramento" absoluto da situação dos candidatos que chegam a esta fase da disputa.

Na verdade, os candidatos trazem consigo a respectiva "fortuna eleitoral", traduzida não apenas pelos votos obtidos no primeiro turno, como também pelo conjunto de percepções passadas à sociedade pelo candidato na campanha da primeira fase do pleito. Nesta eleição, embora exista, em tese, a possibilidade de alterações no quadro eleitoral, as chances de que isso ocorra de forma substancial são remotas, especialmente se considerarmos a razoável distância que separa Dilma de Serra: 46,91% x 32,61%, o que corresponde a 14 milhões e meio de votos, ou o eleitorado inteiro de Minas Gerais.

É certo, por outro lado, que não podem ser desprezados os quase vinte milhões de votos de Marina. Esse eleitorado também tem que ser conquistado. Mas afinal, quem são esses eleitores?

Análises apressadas atribuem, ora com ênfase numa ou noutra causa, a frustração da vitória de Dilma no primeiro turno às questões religiosas suscitadas a partir da campanha difamatória derramada pela internet. Também a questão ambiental teria influenciado o resultado. Os descontentes com a "realpolitik" (incluído aí as denúncias contra o governo federal) teriam igualmente influenciado o resultado.

Mas, na verdade, nem todas as causas apontadas têm o peso que lhes é atribuído. Embora se afirme que a campanha difamatória espalhada pela direita contra Dilma na internet tenha trazido prejuízos eleitorais em determinados segmentos mais conservadores, a análise feita por Antonio Luiz M. C. da Costa, na Carta Capital, sob o título "O voto em Marina não é ecológico, mas também não evangélico" traz elementos importantes ao debate.

Segundo Costa, o voto em Marina pode advir da nova classe média. "É uma camada principalmente urbana, que progrediu em relação aos pais pobres e mal educados, tem certa educação, até superior, está decentemente empregada e precisa cada vez menos de programas sociais como o Bolsa-Família, do SUS ou de novos projetos de saúde e saneamento. Ao mesmo tempo, é mestiça, não está à vontade com a 'alta cultura', tem gostos populares e se sabe desprezada pela elite tradicional. Não se identifica totalmente com as prioridades da esquerda – redução da desigualdade e crescimento econômico – mas também não com as da direita – conservação de privilégios disfarçados em competência e meritocracia. Busca um meio-termo que, assim como Marina, não sabe definir com precisão e chama de 'mudança'."

A análise feita por Costa é importante para a compreensão do momento porque, como sabemos, a classe média é uma "classe de acesso", e quem chega a ela percebe que pode ir além, aspecto que explica um certo descompromisso dos integrantes deste estamento social com outros pressupostos que não sejam os seus interesses mais ou menos imediatos e pode ser influenciada por vagas promessas de "mudança" e de ela "pode mais", embora isto não seja explicitado por quem promete.

Para nós, militantes de esquerda comprometidos com a defesa das conquistas do governo Lula, esta constatação traz, num primeiro momento, uma certa frustração, pois gostaríamos que todos os beneficiados pelas políticas públicas que possibilitaram a melhoria das condições de vida de milhões de pessoas reconhecessem claramente isto e, por conseqüência, se alinhassem de pronto ao projeto da continuidade da era de avanços inaugurada por Lula. Isto é verdade em relação a um grande contingente do eleitorado, tal é que resta induvidosa a vitória de Dilma neste segundo turno, pois não há fato com potência suficiente para catalisar 14 milhões de novos votos em torno de Serra. Mas no que respeita a uma parcela considerável desta "nova classe média", não é assim. Atrair a classe média na hora do voto é algo sempre complicado.

Nesta perspectiva, é errado pensar que a votação de Marina é "verde" ou "religiosa". Segundo o autor, "Esta interpretação se reforça quando se desce ao detalhe dos votos por município. Recife, capital do estado natal de Lula, não tem uma proporção excepcional de evangélicos pelos padrões brasileiros: apenas 17,6%. Mas 37% dos recifenses votaram em Marina (42% em Dilma, 19% em Serra). Já o município pernambucano de Abreu e Lima, o mais evangélico do estado (31,2%) teve 27% de votos em Marina, 52% em Dilma e 15% em Serra. No Rio de Janeiro, Marina teve 29% em um município de alta concentração de evangélicos (30%) como Belford Roxo, 32% na capital (17,7% evangélica) e 37% em Niterói (15,3% evangélica), enquanto Dilma teve 57%, 43% e 35%, respectivamente, nesses municípios (e Serra 12%, 22% e 25%)."

No que respeita ao argumento verde, basta verificar a pífia votação dos demais candidatos do PV a cargos majoritários ou proporcionais para constatar que, enquanto opção política, o ambientalismo está longe de mobilizar prioritariamente a população brasileira. Nesta perspectiva, voto em Marina sob este fundamento é secundário.

Assim, a busca pelos votos de Marina, além do enfrentamento da campanha de mentiras disseminadas contra Dilma pela direita brucutu (o que finalmente está sendo feito), deve dialogar fortemente com as aspirações da nova classe média, que se situa politicamente ao centro (ainda que não tenha consciência disto) e oscila a cada pleito.

Dilma deve reforçar que o projeto da continuidade ampliada do governo Lula é a garantia da possibilidade do progresso das pessoas nas suas legítimas aspirações.

Leia a íntegra do artigo de Costa aqui.

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