domingo, 28 de outubro de 2012

VIVA A POLÍTICA!, por Marcos Coimbra


Hoje, quando se encerra em todo o Brasil o processo eleitoral de 2012, é dia de celebrar a democracia e o instituto sem o qual ela não existe: a representação popular.

Em um país como o nosso, é sempre necessário lembrar a importância do ritual eleitoral. Ele foi mais a exceção que a regra em quase 125 anos de vida republicana.
Vivemos a maior parte de nossa experiência como nação moderna sem que a grande maioria da população pudesse se expressar e dizer o que desejava.
Até 1930, éramos uma República de participação fortemente limitada, em que as oligarquias mandavam sozinhas e apenas os “bem pensantes” podiam votar. A quase totalidade dos trabalhadores, dos pouco educados e dos jovens não tinha voz.
Nenhuma mulher votava.
Por um breve período, as amarras foram relaxadas, mas voltaram a se fechar em 1937, quando uma ditadura baniu a política representativa. Só voltamos a fazer eleições em 1945.
Ainda que controlada, tivemos a primeira democracia ampla por 20 anos, quando uma nova ditadura foi implantada. Essa não eliminou as eleições, mas colocou o sistema político no cabresto.
O golpe de estado de 1964 aconteceu quando as Forças Armadas entenderam que a democracia era ineficiente e perigosa. Que, em última instância, era impossível confiar no sistema eleitoral e nos partidos políticos.
Os generais não agiram sozinhos. Assumiram o poder em resposta aos “clamores” dos setores da sociedade incomodados com o trabalhismo de João Goulart, especialmente o empresariado tradicional, os grandes proprietários rurais e a parte mais conservadora da classe média.
Até o 1º de abril, a “grande imprensa” fez seu papel. Quem não se lembra das manchetes de um jornal carioca: “Basta!”, “Fora!”. A nascente indústria de comunicação brasileira tinha lado e estimulava a impaciência dos militares com a democracia.
Queria derrubar o governo.
Na nova ordem, a política permaneceu, mas foi “disciplinada”. Os golpistas achavam que precisavam “saneá-la”.
Todo ditador acredita que a democracia é corruptível, que a política é “suja” e que os políticos são inconfiáveis. Que existe uma política “certa” e uma “errada”.
Nisso, podem ser parecidos com as pessoas normais, que costumam preferir um partido e achar que é o correto.
Mas há uma imensa diferença. Os ditadores - e os autoritários, em geral -, impõem sua visão. Decretam o que é certo ou errado, decidem o que é “limpo” e o que é “sujo”.
Não reconhecem o valor do processo eleitoral e acham que o povo é tolo e conduzido por demagogos. Que o cidadão precisa deles para protegê-lo, no fundo, de si mesmo.
Como várias coisas na vida, que só existem na inteireza, não há democracia “pela metade”. Quem acha que vai consertá-la, do alto de sua fantasia de onipotência e superioridade, a inviabiliza.
A democracia orientada por uma falsa elite de “homens de bem” - fardados ou vestidos com qualquer roupagem - não é de verdade. Mesmo quando seus pretensos benfeitores se imaginam sábios e se creem imbuídos das melhores intenções.
Hoje, quando formos à urnas nas cidades com segundo turno, é bom meditar a respeito de nosso passado.
Viva a política! Vivam os políticos, que se expõem ao voto e conquistam o direito de representar as pessoas! Que só falam em nome dos outros depois de receber um mandato!
Vivam os partidos autênticos, que juntam opiniões e visões de mundo! Que transformam convicções individuais em projetos coletivos!
Com seus acertos e erros, viva o processo eleitoral livre, sem interferência! Só assim expressa a vontade do cidadão, que ninguém tem o direito de confiscar!

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
(artigo obtido a partir do Blog do Noblat!!!)

sábado, 6 de outubro de 2012

TATUS, CHAFARIZES E GALINHAS


     Impressiona a ganância com que os interesses privados assaltam a coisa pública. E as consequências que isto pode trazer para quem tenta se opor a este intento.
    Na última quinta-feira um protesto, que se iniciou pacífico contra a instalação, pela Coca-Cola, a partir de autorização do governo Fortunati, de um boneco do mascote da copa no Largo Glênio Peres, que fica ao lado da Prefeitura, acabou em pancadaria, com diversos jovens feridos pela selvageria com que a Brigada Militar rechaçou o protesto, sob a alegação de que os manifestantes, que começaram dançando e cantando em volta do boneco, partiram para a depredação do mesmo. Na confusão, as cordas que seguravam o boneco, que era inflável, se desprenderam e ele caiu. Não se desconhece que manifestações públicas podem dar azo a confusões, com responsabilidades de parte a parte, mas causa espécie a afirmativa dos responsáveis pelo comando da operação policial de que a Brigada "reagiu às provocações". Provocações? Mas desde quando estudantes e professores desarmados oferecem perigo a policiais carregados de equipamentos de repressão? Parece até as justificativas que a ditadura dava quando torturava e matava militantes de esquerda. A bem dizer, a cultura permanece a mesma. Ainda deve ser registrado que a Guarda Municipal também participou de atos de repressão ao protesto, sob a alegação de que os manifestantes queriam "invadir a Prefeitura".


                                                                                                                             foto de Ramiro Furquim/Sul 21
A polícia de Tarso e a Guarda de Fortunati deram uma mãozinha para a Coca-Cola


                                                                 foto de Ramiro Furquim/Sul 21
O resultado foi este

     A mesma Coca-Cola esteve, dias antes, envolvida em outra confusão, desta vez por conta de uns chafarizes estrambóticos que foram instalados no mesmo Largo Glênio Peres, localizado ao lado do Mercado Público. Tais chafarizes, instalados rentes ao piso da praça, sem qualquer demarcação que alerte os passantes de que, a qualquer momento, surgirão do chão jatos d’água, tem causado transtornos à população, encharcando os desavisados que passam pelo local. Sem falar no seu uso criminoso para atrapalhar o comício de encerramento de campanha da  candidatura de Adão Villaverde, do PT, realizado no mesmo local, tradicional espaço de manifestação política da Capital Gaúcha. De repente, durante o comício, os chafarizes começaram a funcionar, molhando dezenas de participantes do evento.
     Aliás, a iniciativa da instalação dos chafarizes malucos faz parta da “revitalização do Largo Glênio Peres”, empreendida pelo governo Fortunati e pela Coca-Cola.

                                                                                                                                           foto Luis Eduardo Achutti
Aqui, a água brota do chão. Diretamente para cima das pessoas

     A partir do governo Fogaça-Fortunati, avançou o processo de apropriação dos espaços públicos pelos interesses privados. Prova disso são as privatizações do Cais do Porto e do histórico auditório Araújo Vianna, a escassa exigência de contrapartidas para grandes empreendimentos (como no gritante caso de um estádio de futebol que está sendo construído – e não é para a Copa), a distribuição de alvarás para atividades econômicas sem critérios (“Alvará na Hora” – dado precariamente e depois ninguém consegue regularizar a atividade), dentre outras iniciativas análogas.
       No governo de Fogaça (PMDB), que renunciou ao cargo para concorrer ao governo do Estado, a Administração Pública municipal transformou-se num arquipélago de pequenas (algumas nem tanto) ilhas de interesses partidários e pessoais. Secretários e seus grupos passaram a fazer o que quisessem dentro das secretarias, sem que ninguém lhes importunasse. Fortunati, vice de Fogaça, quando assumiu, não fez nada para mudar o cenário. Tal é que, há poucos dias da eleição, estoura um escândalo na Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), quando assessores comunitários da pasta (todos CCs) foram gravados trocando asfalto e salsichões assados por votos para o ex-secretário e candidato a vereador, Cássio Trogildo (PTB) e para Fortunati.
     Aliás, o candidato a vice de Fortunati, Sebastião Melo (PMDB), disse, quando Fogaça renunciou e o primeiro assumiu a Prefeitura, que não estava se instalando um novo governo, mas sim a continuidade do governo do PMDB. Tratava-se, segundo Melo, de um “condomínio”, do qual Fortunati era o (e tão-somente) o síndico.
     Assim, o sistema feudal, ao que indicam as pesquisas, continuará na Prefeitura de Porto Alegre, para cuja continuidade também, e grandemente, contribuiu a incompetência da oposição, mas disto falaremos proximamente.
               Enquanto isso Fortunati, blindado pelo PIGuasga, segue em céu de brigadeiro. Poderá continuar a se dar o luxo de continuar a caçar galinhas no meio da rua.

                                                                              foto de Adriana Franciosi/Agência RBS