Impressiona a ganância com que os
interesses privados assaltam a coisa pública. E as consequências que isto pode
trazer para quem tenta se opor a este intento.
Na última quinta-feira um protesto, que se
iniciou pacífico contra a instalação, pela Coca-Cola, a partir de autorização
do governo Fortunati, de um boneco do mascote da copa no Largo Glênio Peres,
que fica ao lado da Prefeitura, acabou em pancadaria, com diversos jovens feridos
pela selvageria com que a Brigada Militar rechaçou o protesto, sob a alegação
de que os manifestantes, que começaram dançando e cantando em volta do boneco,
partiram para a depredação do mesmo. Na confusão, as cordas que seguravam o
boneco, que era inflável, se desprenderam e ele caiu. Não se desconhece que manifestações públicas podem dar azo a confusões, com responsabilidades de parte a parte, mas causa espécie a afirmativa dos responsáveis pelo comando da operação policial de que a Brigada "reagiu às provocações". Provocações? Mas desde quando estudantes e professores desarmados oferecem perigo a policiais carregados de equipamentos de repressão? Parece até as justificativas que a ditadura dava quando torturava e matava militantes de esquerda. A bem dizer, a cultura permanece a mesma. Ainda deve ser registrado que a Guarda Municipal também participou de atos de repressão ao protesto, sob a alegação de que os manifestantes queriam "invadir a Prefeitura".
foto de Ramiro Furquim/Sul 21
A polícia de Tarso e a Guarda de Fortunati deram uma mãozinha para a Coca-Cola
foto de Ramiro Furquim/Sul 21
O resultado foi este
A mesma Coca-Cola esteve, dias antes,
envolvida em outra confusão, desta vez por conta de uns chafarizes estrambóticos
que foram instalados no mesmo Largo Glênio Peres, localizado ao lado do Mercado
Público. Tais chafarizes, instalados rentes ao piso da praça, sem qualquer
demarcação que alerte os passantes de que, a qualquer momento, surgirão do chão
jatos d’água, tem causado transtornos à população, encharcando os desavisados
que passam pelo local. Sem falar no seu uso criminoso para atrapalhar o comício de encerramento de campanha da candidatura de Adão Villaverde, do PT, realizado no mesmo local, tradicional espaço de manifestação política da Capital Gaúcha.
De repente, durante o comício, os chafarizes começaram a funcionar, molhando
dezenas de participantes do evento.
Aliás, a iniciativa da instalação dos
chafarizes malucos faz parta da “revitalização do Largo Glênio Peres”, empreendida
pelo governo Fortunati e pela Coca-Cola.
foto Luis Eduardo Achutti
Aqui, a água brota do chão. Diretamente para cima das pessoas
A partir do governo Fogaça-Fortunati,
avançou o processo de apropriação dos espaços públicos pelos interesses
privados. Prova disso são as privatizações do Cais do Porto e do histórico
auditório Araújo Vianna, a escassa exigência de contrapartidas para grandes
empreendimentos (como no gritante caso de um estádio de futebol que está
sendo construído – e não é para a Copa), a distribuição de alvarás para
atividades econômicas sem critérios (“Alvará na Hora” – dado precariamente e depois ninguém
consegue regularizar a atividade), dentre outras iniciativas análogas.
No governo de Fogaça (PMDB), que renunciou
ao cargo para concorrer ao governo do Estado, a
Administração Pública municipal transformou-se num arquipélago de pequenas
(algumas nem tanto) ilhas de interesses partidários e pessoais. Secretários e
seus grupos passaram a fazer o que quisessem dentro das secretarias, sem
que ninguém lhes importunasse. Fortunati, vice de Fogaça, quando assumiu,
não fez nada para mudar o cenário. Tal é que, há poucos dias da eleição,
estoura um escândalo na Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV), quando
assessores comunitários da pasta (todos CCs) foram gravados trocando asfalto e
salsichões assados por votos para o ex-secretário e candidato a vereador,
Cássio Trogildo (PTB) e para Fortunati.
Aliás, o candidato a vice de Fortunati,
Sebastião Melo (PMDB), disse, quando Fogaça renunciou e o primeiro assumiu a
Prefeitura, que não estava se instalando um novo governo, mas sim a
continuidade do governo do PMDB. Tratava-se, segundo Melo, de um “condomínio”,
do qual Fortunati era o (e tão-somente) o síndico.
Assim, o sistema feudal, ao que indicam as
pesquisas, continuará na Prefeitura de Porto Alegre, para cuja continuidade
também, e grandemente, contribuiu a incompetência da oposição, mas disto
falaremos proximamente.
Enquanto isso Fortunati, blindado
pelo PIGuasga, segue em céu de
brigadeiro. Poderá continuar a se dar o luxo de continuar a caçar galinhas no meio da
rua.
foto de Adriana Franciosi/Agência RBS
Um comentário:
Auto de resistência.
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